O ódio que você semeia, de Angie Thomas


“Qual é o sentido de ter voz se você vai ficar em silêncio
nos momentos que não deveria?”

O ódio que você semeia
ANGIE THOMAS
378 páginas
Jovem adulto
Galera Record
Onde comprar: Amazon
Avaliação: 5🌟’s + 

Starr aprendeu com os pais, ainda muito nova, como uma pessoa negra deve se comportar na frente de um policial. Quando ela e seu amigo, Khalil, são parados por uma viatura, tudo o que Starr espera é que Khalil também conheça essas regras. Um movimento errado, uma suposição e os tiros disparam. De repente o amigo de infância da garota está no chão, coberto de sangue. Morto.

Em luto, indignada com a injustiça tão explícita que presenciou e vivendo em duas realidades tão distintas (durante o dia, estuda numa escola cara, com colegas brancos e muito ricos - no fim da aula, volta para seu bairro, periférico e negro, um gueto dominado pelas gangues e oprimido pela polícia), Starr precisa descobrir a sua voz. Precisa decidir o que fazer com o triste poder que recebeu ao ser a única testemunha de um crime que pode ter um desfecho tão injusto como seu início. Acima de tudo Starr precisa fazer a coisa certa.

Não faça movimentos bruscos.
Deixe sempre as mãos à mostra.
Só fale quando te perguntarem algo.
Seja obediente.

Essas são algumas regras de como se comportar na presença de um policial que o pai de Starr a ensinou. Mas, infelizmente ninguém nunca teve essa conversa com Khalil e ele foi assassinado por aquele que deveria o proteger.

O ódio que você semeia é uma história forte e real. A obra apresenta dois adolescentes: Starr, que acabou de perder um amigo, e Khalil, o amigo. Mais um jovem morto por apenas ser negro. Os dois estavam voltando de uma festa quando foram parados por uma viatura policial. Um movimento errado, uma suposição e três tiros tiraram a vida do garoto. A adolescente é a única testemunha do crime e agora precisa decidir se dará voz a uma causa.

Essa leitura traz uma reflexão muito forte, gera desconforto, revolta e o motivo é simples, ela retrata a nossa realidade. No livro, quem está por dentro dos fatos quer justiça por Khalil. Quem está do outro lado da tela, acompanhando tudo pela televisão, no aconchego de suas salas, acha que o garoto era uma ameaça e o policial agiu certo.

Até quando vamos julgar o que não sabemos? O fato de morar em uma comunidade carente, em favelas, ter amigos envolvidos com as drogas, ou até mesmo ser negro, não o faz bandido. Não generalize a realidade que você acha que conhece. Angie Thomas nos da uma surra com esse livro e mostra exatamente isso. Ela nos entrega uma leitura difícil, mas com um tom simples, questionador e em alguns momentos descontraído. A autora critica, discute, expõe e apresenta a generalização da maioria sob a minoria.


“Engraçado. Os senhores de escravos também achavam que estavam fazendo a diferença na vida dos negros. Que os estavam salvando do "jeito selvagem africano". Mesma merda, século diferente. Eu queria que pessoas como eles parassem de pensar que gente como eu precisa ser salva”.

Starr é uma protagonista cheia de atitude, dedicada àqueles que ama, mas que precisa enfrentar alguns dilemas da própria vida. A jovem encara duas realidades opostas diariamente: o bairro onde mora com a família, pobre, esquecido pelo mundo e repleto das pessoas com que mais se importa. E, a escola particular no bairro vizinho, onde é a única garota negra e desempenha um papel totalmente diferente das outras horas do dia. Quando Khalil morre a garota decide não contar para os amigos, nem ao menos para o namorado, tudo isso para não ser a “jovem que veio do gueto” e receber diversos olhares de compaixão de pessoas que na verdade não sei importam.

Já Khalil é um grito por justiça no meio de tanta coisa errada. Ele é assassinado, julgado, marginalizado, mas não esquecido. Muitas pessoas do bairro clamam por justiça, gritam pela prisão do policial, procuram a própria voz no meio da injustiça. Afinal, a arma do crime, a responsável por assustar o policial, era um cabo de uma escova de cabelo e a cor da pele do jovem.

Outros personagens também são muito importantes para o desenvolvimento da trama. Maverick, o pai de Starr, é fundamental para o crescimento da protagonista. Lisa, a mãe, é o elo que une toda a família e que sonha em morar em outro bairro mais seguro, mas sem abandonar a comunidade. Seven o irmão mais velho e protetor, filho de Maverick e adotado por Lisa, tem um coração gigante e muita coragem de enfrentar o inimigo por aqueles que ama. Sekani, o caçula família traz o ar da graça para as páginas, e confesso, me arrancou muitas risadas. Por último, ainda há Carlos, o tio policial, responsável pela criação das crianças no período em que Maverick estava preso.

Entre os amigos de Starr temos Maya e Hailey e como o preconceito pode colocar uma amizade de anos por um fio. Nos mostra que nem sempre conhecemos as pessoas de verdade e faz com que o leitor queira dar uns socos na cara de uma delas. Já Chris é o namorado branco de Starr e ambos vivem em uma relação envolta em receios, medos e julgamentos.

Ainda há outros personagens muito importantes e essenciais para as páginas, mas sinto que já entreguei muito e agora você precisa fazer a sua parte. Leia este livro. Conheça esta história e a deixe tocar o seu coração. Em outubro as páginas vão ganhar as telas do cinema e esses personagens irão ficar mais acessíveis a todos. Confira o trailer do filme:



E ai, você ficou curioso com a leitura? Para aqueles que já leram a obra, o que vocês tem a dizer? Vamos conversar.

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