A seleção, de Kiera Cass

Sabe aquele livro que você só conhece a sinopse e várias pessoas o amam, mas no fundo fica com receio e enrola para começar a ler? Prazer, minha história com “A seleção”. Não consigo entender o motivo, mas desde a compra do primeiro volume não estava empolgada com a premissa, tanto que só fui dar a início a leitura após ter a trilogia inicial completa. Talvez seja por não ter criado tantas expectativas que eu acabei amando, literalmente, todas as páginas.

“Ele se aproximou, envolvendo minha cintura com seu braço e me puxando para si. Nossos narizes se tocaram. Ele começou a acariciar meu rosto com os dedos de uma forma tão delicada que parecia temer que eu quebrasse.”

Título: A seleção

Autora: Kierra Cass

Páginas: 368

Editora: Seguinte
Avaliação: ❤❤❤❤❤

O mundo criado pela autora Kiera Cass tem como cenário um Estados Unidos futurístico, após a quarta guerra mundial, onde o governo abandonou não só o nome, mas também realizou uma mudança na sociedade conhecida até então. Agora as pessoas são divididas entre oito castas, sendo a Um composta pela realeza e Oito por quem não tem absolutamente nada, que vivem a margem desta sociedade, com regras rígidas, como toque de recolher e a proibição de sexo antes do casamento. É nesse novo contexto, agora chamado de Illéa, que somos apresentados a America Singer e a Seleção.

"Éramos artistas. E os artistas e músicos clássicos estavam só três degraus acima da sujeira."

A Seleção nada mais é que um concurso para escolher a próxima rainha e princesa, ou seja, as mulheres dos filhos do rei. Trinta e cinco garotas são escolhidas entre milhares da nação de Illéa e de todas as castas. Após as escolhas serem realizadas, elas são levadas para o palácio, a comunicação com suas respectivas famílias é reduzida, e são induzidas em um mundo totalmente novo. Tudo isso com direito a uma quantia a ser paga para seus familiares enquanto estiverem concorrendo. Parece o sonho de qualquer garota desta sociedade, correto? Errado!

America Singer nunca teve vontade alguma de se quer inscrever-se na Seleção. Desejar a coroa está longe dos seus planos, muito menos em ter que lidar com toda a burocracia que vem junto com este cargo. Sendo uma Cinco e a filha mais velha, de cinco filhos ao total, a morar com os pais, ela se vê chantageada pela mãe para ao menos tentar, que não pelo príncipe, mas o dinheiro a ser recebido. O mais improvável acontece. Entre milhares da região de Carolina, Meri é escolhida para tentar conquistar o coração do príncipe. Ela precisa deixar tudo para trás, família, o namorado secreto Aspen, e sua grande paixão, a música.

Do outro lado está o príncipe Maxon, um jovem que desde o início de sua vida foi criado para participar deste concurso e estar na liderança do reino. Ele é educado, divertido e charmoso. Totalmente o oposto do que America imaginava. Agora, ela começa a repensar sobre toda a sua vida e percebe que pode estar trilhando um caminho que jamais se atreveu a imaginar.

E há também Aspen, o namorado secreto de America. O casal vive seu próprio conto de fadas a mais ou menos dois anos, mas ele é um Seis, socialmente abaixo da casta dela, o que torna esse amor muito sofrido. Da noite para o dia Aspen percebe não ser capaz de sustentar mais uma família futuramente. Ambos se amam, mas ele quer protegê-la e mimá-la, não o contrário. Será tão fácil assim esquecer esse amor?

Os personagens secundários também nos garantem muito encanto. May, mais uma das irmãs Singer, é de longe a personagem mais engraçada com todo o seu excesso de romantismo e carinho. Há também Lucy, Anne e Mary, as criadas de America que são um poço de generosidade e atenção, e Marlee, uma das garotas que está na competição e acaba tornando-se a amiga mais próxima de nossa protagonista. Mas, quem ganhou meu coração foi Shalom, o pai de America, com todo o seu amor e compreensão.

Preciso dizer que a autora, Kiera Cass conquistou meu coração com essa obra. Com uma narração em primeira pessoa, fica impossível não colocar-se no lugar de America em diversos momentos. É uma leitura leve, com personagens simples, porém cativantes, resultando ser impossível não gostar desta história. Quanto mais eu avançava, mais a minha curiosidade aumentava. 

As mensagens nas entrelinhas também somaram muito para isso. Esta nova sociedade pode ser vista sim como sexista – Aspen x America – , e obviamente estratificada, onde a maior parte da população passa fome enquanto a família real faz o seu show. Algumas das regras, como o toque de recolher, a proibição quanto ao relacionamento e até mesmo as castas, são exemplos de controle social. O fato de a história não ser escrita – não possuem livros em Illéa contando sobre –, e sim passada oralmente, somando com uma educação precária e o desinteresse das castas inferiores com a mesma, acaba se fazendo fácil desconstruir o passado para que as pessoas não anseiem por mudanças semelhantes àquelas e aceitem o atual presente.

Quando terminei fiquei com a sensação desesperadora de querer ler a continuação, e não perdi tempo, logo comecei. O primeiro volume da trilogia “A Seleção” está mais do que aprovado.