Os homens explicam tudo para mim, de Rebecca Solnit

Foto: Luna literária


Os homens explicam tudo para mim
REBECCA SOLNIT
208 páginas
Editora Cultrix


Em seu ensaio icônico Os homens explicam tudo para mim, Rebecca Solnit foca seu olhar inquisitivo no tema dos direitos da mulher começando por nos contar um episódio cômico: um homem passou uma festa inteira falando de um livro que “ela deveria ler”, sem lhe dar chance de dizer que, na verdade, ela era a autora. A partir dessa situação, Rebecca vai debater o termo mansplaining, o fenômeno machista de homens assumirem que, independente do assunto, eles possuem mais conhecimento sobre o tema do que as mulheres, insistindo na explicação, quando muitas vezes a mulher tem mais domínio do que o próprio homem. Por meio dos seus melhores textos feministas, ensaios irônicos, indignados, poéticos e irrequietos, as diferentes manifestações de violência contra a mulher, que vão desde silenciamento à agressão física, violência e morte. Os homens explicam tudo para mim é uma exploração corajosa e incisiva de problemas que uma cultura patriarcal não reconhece, necessariamente, como problemas. Com graça e energia, e numa prosa belíssima e provocativa, Rebecca Solnit demonstra que é tanto uma figura fundamental do movimento feminista atual como uma pensadora radical e generosa.

Esse é um dos tantos livros que li para o meu tcc, ainda no início de 2019. Para quem desconhece, o meu tema teve tudo a ver com feminismo e por isso precisei buscar por obras que abordassem o assunto. Mesmo sendo uma escritora pouco conhecida, e este um ensaio, diversos trechos casaram perfeitamente com a minha pesquisa. Por ter adorado essa leitura, resolvi trazer a resenha aqui para o blog.

A cena é a seguinte: durante uma conversa um homem interrompe a mulher e resolve explicar a ela sobre um livro que ela mesma havia escrito. A partir dai a definição mansplaining começou a ser utilizada para atribuir os casos em que os homens resolvem explicar tudo às mulheres.

Você sabe o que é isso, certo? Aposto que já passou por alguma situação parecida. Com uma escrita leve (acredite!), Rebecca Solnit expõe diversas situações do tipo, em que as vozes e ideias das mulheres são ignoradas e por vezes silenciadas por aquelas que emitem um som mais alto, a dos homens.

Mas, o livro não é apenas isso. A autora ainda traz ideias de que este silenciamento sempre esteve presente na história feminina e está totalmente interligado a outros acontecimentos como abusos, violências, a dificuldade e falta de credibilidade na hora de expor esse tipo de acontecimento, por exemplo.

Solnit contextualiza todos os seus comentários, demonstra dados e histórias relacionadas a ideia principal do livro. Um dos exemplos mais marcantes é de uma camareira que decidiu não se calar perante um assédio sexual cometido por um homem extremamente poderoso. Mesmo sofrendo julgamentos e perseguições, foi até o fim e conseguiu derrubar este e as pessoas envolvidas no caso.

Obviamente as páginas não são só essas tristezas relacionadas ao silenciamento das mulheres. Ao longo dos nove capítulos temos também vitórias históricas, a visão do que ainda é necessário ser superado e os desafios que estão por vir, para não voltarmos a realidade de opressão.

“A violência é uma maneira de silenciar as pessoas, denegar-lhes voz a credibilidade, de afirmar que o direito de alguém controlar vale mais que o direito delas de existir, de viver”.

Essa foi uma leitura bem desafiadora, pois por vezes as páginas me tiraram o folego, fizeram chorar e sentir uma enorme tristeza. A minha impressão é de que os ensaios aqui reunidos foram publicados com a intenção de fazer o leitor refletir sobre tudo isso que ainda está tão presente em nosso meio.

É uma publicação necessária para aqueles que querem saber mais sobre dados que envolvam as diferentes lutas femininas perante a sociedade. Uma obra capaz de mudar a percepção dos ignorantes, talvez.

“A luta tem sido e continuara sendo longa, difícil e por vezes feia, e a reação contra o feminismo continua feroz, vigorosa e onipresente; mas ela não está vencendo. O mundo mudou profundamente, e precisa mudar muito mais”

Mas, agora quero saber de vocês, já leram esse livro? Se sim, o que acha? Para aqueles que agora que estão conhecendo mais sobre, ficaram interessados? Vamos conversar!

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